Descubra como o coração, além de bombear sangue, influencia emoções, pensamentos e se comunica como o cérebro. Ciência moderna e sabedoria antiga unidas!
O QUE as ANTIGAS CIVILIZAÇÕES SABIAM SOBRE o CORAÇÃO
Por que será que os antigos egípcios, há 4.000 anos, consideravam o coração o centro do pensamento e das emoções – tão importante que eles pesavam o coração de uma pessoa após a morte para julgar seu caráter e sua aptidão para a vida após a morte?
Por que será que Aristóteles, na Grécia do século IV a.C., insistia: “A fonte das sensações é o coração”? (1)
Por que será que Avicena, o grande médico islâmico declarou que, às vezes, o cérebro é “servo do coração” e que “O coração é a raiz de todas as faculdades – vida, apreensão e movimento”? (2)
Talvez porque os antigos sábios do Egito, da Mesopotâmia, Arábia e Grécia tenham percebido algo que a ciência moderna esqueceu: o coração não é apenas uma bomba muscular.
CORAÇÃO e EMOÇÕES
Essa crença de que o coração é o nosso epicentro emocional persiste até hoje nas expressões que todos usamos comumente:
“Ela fez das tripas coração”
“Abra seu coração, e fale a verdade”
“Você sabe, no fundo do seu coração”
“Ele saiu com coração pesado”
Costumamos usar essas frases, certo?
Ninguém diz: “Siga seu fígado.”
Ou: “Estou com pâncreas partido.”
E usamos o formato do coração para representar nosso afeto em presentes de chocolates no Dia dos Namorados…
…para declarar nossa afeição à cidade favorita,
…e em emojis que representam nossos sentimentos de carinho ou tristeza.
Então, o que está acontecendo no coração para nos fazer pensar que ele é mais do que uma mera bomba física?
DA ANTIGA SABEDORIA PARA A CIÊNCIA MODERNA
As realizações das antigas civilizações de que o “coração é o centro biológico e espiritual do corpo, a sede das emoções” (3), estão ressurgindo em… adivinhe onde?
Em reputadas revistas científicas, como a Revista Internacional de Cardiologia, Coração e Vasculatura!
Veja: “Intuições ou mesmo verdades estão ressurgindo do passado, potencialmente úteis para o desenvolvimento científico atual.” (3)
Então, exatamente o que a ciência cardíaca moderna está descobrindo – ou, mais corretamente: redescobrindo?
O PEQUENO CÉREBRO dentro do NOSSO CORAÇÃO
– COMO O CORAÇÃO SE COMUNICA com o CÉREBRO
Que o coração não é apenas uma bomba, mas que temos um cérebro dentro do coração.
Durante 20 anos de pesquisa, nas décadas de 1960 e 1970, os fisiologistas americanos John e Beatrice Lacey, pioneiros no campo de neurcardiologia, descobriram que o coração parece ter uma lógica própria, que frequentemente diverge da direção cerebral do sistema nervoso autônomo. O coração se comporta como se tivesse vontade própria.
O coração e o sistema nervoso não estão simplesmente seguindo as ordens do cérebro, como pensava o fisiologista de Harvard Walter Cannon (que cunhou o termo “resposta de lutar ou fugir”). Em vez disso, os Laceys descobriram que o sistema nervoso autônomo e a comunicação entre o coração e o cérebro são muito mais complexos, e que o coração tem seu próprio “pequeno cérebro” que lhe permite não apenas controlar seus batimentos cardíacos, mas também agir independentemente dos sinais do cérebro craniano para aprender, lembrar, tomar decisões e até mesmo sentir e perceber.
SISTEMA NERVOSO do CORAÇÃO
Este “cérebro no coração”, chamado sistema nervoso intrínseco, é composto por uma intricada rede de pelo menos 40.000 neurônios, e possui seu próprio sistema de neurotransmissores, assim como o cérebro: norepinefrina, serotonina, acetilcolina e até dopamina. (4)
No ano passado, cientistas do Departamento de Neurociências do renomado Instituto Karolinska, na Suécia, examinaram este “mini” sistema nervoso que está inserido nas camadas superficiais da parede cardíaca. “Ficamos surpresos ao ver a complexidade do sistema nervoso dentro do coração”, disse o pesquisador principal, Konstantinos Ampatzis. (5)
As células nervosas que compõem o “cérebro do coração” se agrupam ao redor da parte superior do coração, perto da entrada e saída dos vasos sanguíneos. Cientistas da Universidade Thomas Jefferson, nos EUA, criaram um mapeamento tridimensional completo desse sistema nervoso no coração de um roedor: (6)
COMO O CORAÇÃO SE COMUNICA com o CÉREBRO
Além disso, décadas de pesquisas comprovaram que o coração envia mensagens ao cérebro que o cérebro não apenas entende, mas também obedece.
Ainda mais intrigante foi o fato de que essas mensagens podem afetar as percepções, o comportamento e o desempenho de uma pessoa.
De fato, através do nervo vago, o nervo mais longo do corpo, o coração envia mais mensagens ao cérebro do que o cérebro envia ao coração!
O sistema nervoso complexo do coração, que pode operar independentemente do cérebro, tem muito mais funções do que simplesmente regular as atividades elétricas do coração para mantê-lo bombeando. Ele está em contínua conexão com o cérebro e outros órgãos e sistemas corporais por meio de múltiplas vias.
O “CÉREBRO no CORAÇÃO” COMUNICA BIOQUIMICAMENTE
A comunicação entre o coração e o cérebro acontece bioquimicamente, por meio de hormônios e neurotransmissores, incluindo a ocitocina, o “hormônio do amor”, que é liberado não somente pelo cérebro, mas também pelo coração. A ocitocina não é importante apenas para a sexualidade e os laços afetivos em geral, especialmente para gestantes e lactantes, mas também desempenha importantes papéis no comportamento social, na cicatrização de feridas, no aprendizado, na memória e na empatia. As concentrações de ocitocina no coração são as vezes tão elevadas quanto as do cérebro! (7) (Veja o blog anterior, “Ocitocina: Um Elixir para a Vida?”).
LIGAÇÃO NEUROLÓGICO entre o CORAÇÃO e o CÉREBRO
Será que você já sentiu que seu coração estava lhe dizendo algo que nem mesmo seu cérebro sabia ainda?
Pesquisas demonstraram que os sinais neurológicos do coração, por meio da transmissão de impulsos neurais, afetam diretamente a atividade cerebral na amígdala, um importante centro do sistema límbico para o processamento das emoções e, especialmente, para a mobilização de reações a ameaças ambientais. Devido às extensas conexões do coração com o sistema límbico, o “cérebro no coração” é capaz de ativar o sistema nervoso autônomo e a resposta emocional – mesmo antes que os centros cerebrais como o córtex pré-frontal recebam a informação sensorial sobre a ameaça! (8)
Assim, essas mensagens do coração transmitidas aos centros superiores do cérebro podem influenciar a percepção, a tomada de decisões e outros processos cognitivos. (9)
Será que era a isso que o filósofo francês Blaise Pascal se referia quando disse:
“O coração tem razões que a própria razão desconhece…
Conhecemos a verdade não apenas pela razão, mas pelo coração.”
CAMPO ELETROMAGNÉTICO do CORAÇÃO
De todos os órgãos, o coração gera o maior campo eletromagnético rítmico, aproximadamente 500 vezes mais forte do que o produzido pelo cérebro. Esse campo pode ser detectado a vários metros do corpo com magnetômetros baseados em Dispositivos de Interferência Quântica Supercondutor (SQUID em inglês). Cientistas nos EUA descobriram que os padrões rítmicos na variabilidade da frequência cardíaca refletem estados emocionais e, por conta disso, codificam e transmitem informação por meio do campo eletromagnético irradiado para outras pessoas e para o ambiente. (10)
Este sutil, porém poderoso, sistema de comunicação eletromagnética ou “energética”, que opera logo abaixo da nossa consciência, possivelmente contribui para as atrações ou repulsões “magnéticas” que ocorrem entre os indivíduos e também afeta nossos relacionamentos sociais. (11)
Talvez seja este campo energético que intuitivamente sentimos quando dizemos que estamos conectados a alguém “de coração para coração”.
A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL DO CORAÇÃO
Talvez seja isso que a famosa escritora e ativista cega Helen Keller quis dizer quando afirmou:
“As coisas mais belas do mundo não podem ser vistas, nem mesmo tocadas;
elas devem ser sentidas no coração.”
Por trás das rítmicas batidas do coração escondem-se fascinantes segredos que – depois de milhares de anos – só agora a ciência moderna está redescobrindo.
Quais serão esses segredos?
Veja no próximo Blog!
(Texto da Dra. Susan Andrews)
REFERÊNCIAS
(1) Smith, C. U. M. Cardiocentric Neurophysiology. Journal of the History of the Neurosciences, 2013
(2) Alabdulgader, A. Ancient Wisdom at Intersection with Modern Cardiac Sciences. Cardiology and Vascular Research, 2021.
(3) Zampieri, F. Cardiocentrism in ancient medicines. International Journal of Cardiology Heart and Vasulature, 2023.
(4) Fadhil, A. Can hearts swap personalities? Medspire, 2023. [O “cérebro no coração” possui 700 a 1500 gânglios intracardíacos, cada um composto de 200 a 1000 neurónios.]
(5) Pedroni, A. et al. Decoding the molecular, cellular, and functional heterogeneity of zebrafish intracardiac nervous system. Nature Communications, 2024.
(6) Science, Achanta et al. A Comprehensive Integrated Anatomical and Molecular Atlas of Rat Intrinsic Cardiac Nervous System. Science, 2020.
(7) Gutkowska, J. Oxytocin is a cardiovascular hormone. Brazilian Journal of Medical and Biological research, 2000.
(8) Rein G, et al. The Physiological and Psychological Effects of Compassion and Anger. Journal of Advancement in Medicine, 1995.
(9) Armour J A. Neurocardiology: Anatomical and Functional Principles, New York, NY, Oxford University Press, 1994.
(10) – McCraty R et al. The Resonant Heart. Shift: At the Frontiers of Consciousness; 2004.
(11) – McCraty R. The Energetic Heart: Bioelectromagnetic Communication Within and Between People. Clinical Applications of Bioelectromagnetic Medicine, 2004.